miércoles, 21 de marzo de 2018

El poeta Gabriel del Casal se atreve a tanto, descendiendo hacia el mueble tapizado. Algunos gustos en la biblioteca.




Arte romano.

Apostillas en alta mar

Las mentiras de Lezama, que no son las del comandante

Por Gabriel del Casal

Mientras pensaba sentado en mi nuevo escritorio, como hacen los escritores, ya sea Jane Austen a su boticario, Madame Bovary a su amante desprestigiado, envolturas que solo se liberan con la rodilla más allá de toda sospecha. No era esa la época, y se postra todos los días a ser poeta y no veterinario como su padre.

Pero no lo logra, necesita cannabis, y se lee todo un capítulo en inglés, para ir dejando el español. Ni tan siquiera de Walt Whitman, que inventó a Borges en una biblioteca.

Escribiré como si Américo Castro se interesará más por el surrealismo, menos por el socialismo repúblicano, golpeada y destruida hasta sus cienes por el fascismo ordinario. Quedó desparramado Hernández que solo era un chiquillo contra el rey desplomado. Escribiré los versos más tristes esta noche, se olvidó de escribir así.

Rilke a una tal Madame Fernández de Ronda, en sus cuatro años de meditación contra la guerra. Engels a Víctor Hugo,  sin saber ni mu que le dijo, en la carpeta de Isaac Berlín. Yo me imagino lo rectilíneo del marxista apasionado por La leyenda de los siglos.


Cioran.

Escribo ahora por la comodidad, el viaje astral del medio día, la pelea con la diva, y más que todo porque no me duele la espalda, y a mi lado el Album Éluard.

La libreta negra de mi última sabiduría, con escritores que fueron muy peludos de la cabeza para arriba, ni se echaban gel, frente a las pelucas, millones, que dejaron de usarse para los hombres, a excepción de los lores del alto tribunal. Los calvos en este caso son los mayores degenerados. Vea a Genet, que nunca tuvo escritorio de palo santo. L'Affaire Genet.

Me escribió Cortázar, Hay fuego en el 23, y el panameño lanzó el escritorio pa rriba. Yo no me lo creo, pero dicen las apostillas que por la ventana. Todo es falso.

El filósofo de cabecera de tanto desocupado, Cioran, antes era Nietzsche, le escribía a Eliade, mira tengo razón, no me he acomodado en París, tengo cara de refugiado, y entiendo mucho el español, la cuna de la nueva religión de occidente.


Víctor Hugo.


Mircia Eliade le contesta, córtate el pelo para una causa común, y no era la más grande contradicción la metafísica? mira a Pessoa en el ocultismo.

Henry Miller, reteniendo el tema, cantaba en francés, y toda la sala quedaba vacía. Que felicidad, que falta de perder las monedas. Mientras chasqueaba con el Coloso de Rodas.  


Henry Miller y Glenda Venus

***

Álvaro de Campos

OPIÁRIO

                        Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro

É antes do ópio que a minh’alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
Já não encontro a mola pra adaptar-me.

Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.

É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.

Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.

Ando expiando um crime numa mala,
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
E caí no ópio como numa vala.

Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes
Ergue-se a lua como a minha Sina.

Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, cânfora na aurora.

Perdi os dias que já aproveitara.
Trabalhei para ter só o cansaço
Que é hoje em mim uma espécie de braço
Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.

E fui criança como toda a gente.
Nasci numa província portuguesa
E tenho conhecido gente inglesa
Que diz que eu sei inglês perfeitamente.

Gostava de ter poemas e novelas
Publicados por Plon e no Mercure,
Mas é impossível que esta vida dure,
Se nesta viagem nem houve procelas!

A vida a bordo é uma coisa triste,
Embora a gente se divirta às vezes.
Falo com alemães, suecos e ingleses
E a minha mágoa de viver persiste.

Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a Índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.

Por isso eu tomo ópio. É um remédio.
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.

Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a Índia que há
Se não há Índia senão a alma em mim?

Sou desgraçado por meu morgadio.
Os ciganos roubaram minha Sorte.
Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte
Um lugar que me abrigue do meu frio.

Eu fingi que estudei engenharia.
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avozinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria.

Não chegues a Port-Said, navio de ferro!
Volta à direita, nem eu sei para onde.
Passo os dias no smoking-room com o conde —
Um escroc francês, conde de fim de enterro.

Volto à Europa descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monárquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.



Martirio de San Bartolomé.


Ser vária gente insípida que vi.Hoje, afinal, não sou senão, aqui,
Num navio qualquer um passageiro.

Não tenho personalidade alguma.
É mais notado que eu esse criado
De bordo que tem um belo modo alçado
De laird escocês há dias em jejum.

Não posso estar em parte alguma. A minha
Pátria é onde não estou. Sou doente e fraco.
O comissário de bordo é velhaco.
Viu-me co’a sueca... e o resto ele adivinha.

Um dia faço escândalo cá a bordo,
Só para dar que falar de mim aos mais.
Não posso com a vida, e acho fatais
As iras com que às vezes me debordo.

Levo o dia a fumar, a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem,
E eu já tão bêbado sem nada! Dessem
Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.

Escrevo estas linhas. Parece impossível
Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta!
O facto é que esta vida é uma quinta
Onde se aborrece uma alma sensível.

Os ingleses são feitos pra existir.
Não há gente como esta pra estar feita
Com a Tranquilidade. A gente deita
Um vintém e sai um deles a sorrir.

Pertenço a um género de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.

Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
Nem leio o livro à minha cabeceira.
Enoja-me o Oriente. É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.

Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir. Almas honestas
Com horas pra dormir e pra comer,

Que um raio as parta! E isto afinal é inveja.
Porque estes nervos são a minha morte.
Não haver um navio que me transporte
Para onde eu nada queira que o não veja!

Ora! Eu cansava-me do mesmo modo.
Queria outro ópio mais forte pra ir de ali
Para sonhos que dessem cabo de mim
E pregassem comigo nalgum lodo.

Febre! Se isto que tenho não é febre,
Não sei como é que se tem febre e sente.
O facto essencial é que estou doente.
Está corrida, amigos, esta lebre.

Veio a noite. Tocou já a primeira
Corneta, pra vestir para o jantar.
Vida social por cima! Isso! E marchar
Até que a gente saia pla coleira!

Porque isto acaba mal e há-de haver
(Olá!) sangue e um revólver lá prò fim
Deste desassossego que há em mim
E não há forma de se resolver.

E quem me olhar, há-de-me achar banal,
A mim e à minha vida... Ora! um rapaz...
O meu próprio monóculo me faz
Pertencer a um tipo universal.

Ah quanta alma haverá, que ande metida
Assim como eu na Linha, e como eu mística!
Quantos sob a casaca característica
Não terão como eu o horror à vida?

Se ao menos eu por fora fosse tão
Interessante como sou por dentro!
Vou no Maelstrom, cada vez mais prò centro.
Não fazer nada é a minha perdição.

Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
Pudesse a gente desprezar os outros
E, ainda que co’os cotovelos rotos,
Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!

Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos.

O absurdo, como uma flor da tal Índia
Que não vim encontrar na Índia, nasce
No meu cérebro farto de cansar-se.
A minha vida mude-a Deus ou finde-a...

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Até virem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.

Ah que bom que era ir daqui de caída
Prà cova por um alçapão de estouro!
A vida sabe-me a tabaco louro.
Nunca fiz mais do que fumar a vida.

E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas —
E basta de comédias na minh’alma!

                        No Canal de Suez, a bordo.
3-1914
***


Por el día internacional de la poesía (21 de marzo): Pedro Arturo Estrada, Gabriel Jaime Caro (Gajaka),  Noel Jardines, Jesús Blas Comas, León Felix Batista. Museo de Queens, 2013. Foto de Loli Cienfuegos.

***

Un pacto

[Poema - Texto completo.]
Ezra Pound


Yo hago un pacto contigo, Walt Whitman.
Ya te he detestado lo suficiente.
Llego a ti como un niño crecido
Que ha tenido un padre testarudo;
Ya tengo edad para hacer amigos.
Fuiste tú el que partió la nueva leña,
Ahora es el tiempo de tallar.
Nosotros tenemos la raíz y la savia:
Que haya intercambio entre nosotros.


13 comentarios:

  1. Feliz día del poeta, Gabriel del Casal.

    ResponderEliminar
  2. Me chifla la foto de los poetas. Los zapatos luminosos de ectraterrestre de Gajaka. Pedro Arturo vestido de Mosquetero. León de León.

    ResponderEliminar
  3. Que interesantes mentiras o mentiras interesantes.

    ResponderEliminar
  4. Hombre Caro, te regalo este poema para tu blog neoberraco.

    Sala De Disección

    Un cadáver puede provocar una filosofía del ensimismamiento,
    sin embargo los estudiantes admirablemente
    estaban entusiasmados con su muerto,
    lo rodeaban
    y discutían con fervor la anatomía de ese cuerpo de piel coriácea.
    Yo aprendía otra lección:
    la vida y la muerte no se meditan en una mesa de disección.
    Los estudiantes me previnieron
    que iban a extraer el cerebro. Permanecí con ellos:
    a veces soporto lo siniestro sin perturbarme demasiado.
    No hay sofisticación instrumental para retirar un cerebro,
    una modesta sierra de carpintero
    cortó el cráneo a la altura de las sienes,
    luego sumergieron el órgano mítico en un frasco lleno de formol.
    Yo me dediqué a observarlo, solo, en otra mesa
    mientras los estudiantes seguían cotejando su denso libro con el muerto.
    Sorpresivamente
    una burbuja brillante brotó del interior del cerebro
    como un mensaje venido de la otra margen,
    y no había boca que lo pronunciara.
    No había boca.
    La burbuja, muda, se deshizo en ese aire levemente podrido.

    José Watanabe

    ResponderEliminar
  5. Te felicito, muy hermoso el poema en portugués de Álvaro de Campos. Tanta sabiduría en un solo poema.

    ResponderEliminar
  6. Mi perro en el barco
    Tragado y atragantado
    Mordido como debe ser
    Se acerca placentero
    Al rebolu marítimo
    Sin lentes de escolta
    A la boca de la reina
    En la ruta dorada
    De doradas estrellas
    De la noche pueril
    De los lagartos en flor
    Hombre no lo habías dicho
    La Camorra y la modorra.

    ResponderEliminar
  7. Carita de púrpura24 de marzo de 2018, 5:12

    Flaquezaes el único que no toma vino. Por eso será que ya no publica libros de poesía. Jejeje

    ResponderEliminar
  8. Mira Gajaca, todos tus heteronimios, algunos heterosexuales, escriben igual, eres tu multiplicado a cuatro voces.
    Por favor trata de hacerlos, pero no me vengas con eso, que lo que va hacer es aburrirnos contigo, inquisidor alienigena.


    ResponderEliminar
    Respuestas
    1. No creo. Del Casal es muy atrevido, y no entra a pulir nada. Son como sinversos, una vitrina de admiraciones con salsa de barbiquejo, agridulce. Es el pregonero, no nació (sino se sabe dónde), murió.
      Hilario Aquiles si pule, es rococo a su antojo paquidermo.
      Mandarin Carroll es el más barroco, maestro de Gajaka.

      Eliminar
  9. La ecolalia, de esa repetición sufren tus heterónimos.

    ResponderEliminar
  10. el nuevo síndrome freudiano-digital,
    el complejo de los polipos-edipos (temor a que le escudriñen las varicosas hemorroides del ego en Facebook) editan, cortan y pegan según el ojo destinatario, se asocia a remanentes psicosomáticos de la fiebre bovina medieval...

    ResponderEliminar

Gracias por los comentarios enviados con tu cuenta de Gmail, y por enviar textos para esta secta abierta de la pequeña Andrómeda con cebollas en el mundo celeste. Si no la tienes la puedes sacar inmediatamente. Textos pueden ser enviados a gajaka@hotmail.com. e hilario.aquiles@gmail.com